domingo, 25 de maio de 2008

Os superestimados do Brasil

Quem é ídolo mas não está com essa bola toda?

Um dos editores da revista americana Entertainment Weekly publicou em sem blog (“O Glutão”) uma lista de artistas e obras que ele considera “overrated”. Não existe uma tradução exata em português, a mais próxima é “superestimado”. São obras e pessoas que (por uma série de razões) costumam ser julgadas melhores do que realmente são. Ross inclui em sua lista mitos sagrados.

Como a série Friends, que ele chama de “infernalmente irritante”. Chega a dizer que se encontrasse aquela turma num bar “sairia na porrada”. Detona duas veteranas bandas de rock (Grateful Dead e Pink Floyd) porque “não toma LSD nem fuma maconha” para entender o som que elas produzem. Diz que Al Pacino foi um grande ator até Scarface, mas que depois tem repetido o mesmo papel de neurótico, berrando na orelha de todo mundo.

Se nos Estados Unidos, com toda a sua implacável competitividade, existe essa coisa de “superestimar”, imagina só no clima complacente da cultura brasileira. Aqui ninguém parece falar mal de ninguém. Todo mundo é maravilhoso, e todo espetáculo é belíssimo. Mitos se contróem com uma certa facilidade, e eles permanecem mitos sem precisar fazer muita força.

Cada um tem sua lista de “overrateds”. Gente que brilha sob os holofotes e o faz pensar: “Esse cara não está com essa bola toda...”. Muita gente vai discordar, mas eis alguns exemplos de minha lista pessoal:

Chico Buarque de Hollanda. Por que ele continua sendo visto como semideus? O auge de sua carreira aconteceu há um quarto de século. Seus livros fazem enorme sucesso entre críticos esnobes de literatura. Ele é lembrado principalmente pela cor de seus olhos e pela atração que exerce em determinadas mulheres. E por ser o ícone contra a ditadura militar brasileira que hoje apóia Fidel Castro. Superestimado?

Fernanda Montenegro. A primeira-dama do teatro brasileiro. Unanimidade nacional. Mas parece acometida da síndrome de Al Pacino. Há muito tempo faz o mesmo papel, de uma mulher firme, séria, objetiva, durona, esperta, sincera. Como Pacino, está virando uma personagem. Superestimada?

No Brasil, todo mundo parece maravilhoso, e todo espetáculo é chamado de “belíssimo”
Pitty. Tudo bem, o Brasil precisava de uma mulher para fazer o papel de “roqueira oficial”, especialmente depois da morte de Cássia Eller. Mas Pitty entrou no mercado sendo tratada como dona de um talento espantoso e mostrando a arrogância de uma prima-dona. O rock brasileiro sempre se levou meio a sério, mas Pitty exagerou. Superestimada?

Oscar Niemeyer. O “arquiteto genial conhecido mundialmente” já foi “homenageado” nesta coluna por ocasião de seu centenário. Desde lá ele (que odeia o capitalismo) ficou um pouco mais rico espalhando mais desconfortáveis caixas de concreto pagos com dinheiro público. Superestimado?

Glauber Rocha. O nosso mais famoso cineasta, revolucionário, símbolo do anticonformismo, o homem da idéia na cabeça e a câmera na mão. Genial. E ninguém agüenta ver mais de dois minutos seguidos de qualquer um de seus filmes. A não ser que seja portador de masoquismo estético. Superestimado!

E você? Quem está em sua lista? Quem tem mais fama do que merece? Roberto Carlos? Fernanda Young? Arnaldo Antunes? Ana Carolina? Gisele Bündchen? Adriane Galisteu? Selton Mello?

Fonte:Revista Época (20 de maio de 2008), Coluna Nosso Tempo, de DAGOMIR MARQUEZI

Um comentário:

Fê Colcerniani disse...

Nossa... Cada um tem seu ponto de vista... Masnão concordo mesmo com as pessoas que vc citou aqui do Brasil... Talvez Pitty vc esteja certa... Mas Chico Buarque? Fala sério... É preciso se compreender mais de história e de sua obra para dizer isso... mesmo pq acho que ele seja pouco estimado ainda. Bjs e muito bom seu blog, apesar dessa divergência... rs rs rs