sábado, 14 de novembro de 2009

Ana retoma padrões (e paixões) no show 'N9ve'


Resenha de Show
Título: N9ve
Artista: Ana Carolina (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Credicard Hall (RJ)
Data: 13 de novembro de 2009
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz em São Paulo (SP) até 15 de novembro de 2009
* Porto Alegre (RS) - 18 de novembro de 2009
* Joinville (SC) - 19 de novembro de 2009
* Pelotas (RS) - 22 de novembro de 2009
* Salvador (BA) - 12 de dezembro de 2010
* Rio de Janeiro (RJ) - 15 a 17 de janeiro de 2010

A despeito de ostentar hi-tech estética cinematográfica no cenário da diretora Bia Lessa, em moldura inédita nos palcos pisados por Ana Carolina, o show N9ve retoma padrões e paixões da artista. A ambiência cool do CD homônimo - editado em agosto de 2009 - se dilui em cena por conta da intensidade vocal que dá o tom de números como Dez Minutos e Hoje Eu Tô Sozinha. Até o habitual figurino preto é recorrente no espetáculo, apesar da brecha para permitir uma perna de fora em Traição, balada na qual a cantora se aventura ao piano sem reeditar a atmosfera jazzy do registro do disco, feito com o piano de Daniel Jobim e a voz de Esperanza Spalding. Se quase não existem sutilezas no canto passional da intérprete, há - em contrapartida - nuances na direção musical de Alê Siqueira que valorizam o show, cuja estreia nacional ocorreu na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), na noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2009. Lampejos de ousadia perceptíveis nas cordas orquestradas de forma inusitada em Era - número em que a Ana canta e toca violão sobre um trilho que a desloca de uma extremidade à outra do palco - e na percussão (de Leonardo Reis) que dá pulsação criativa a 8 Estórias e faz o tema crescer no show, que salpica (boa) dose de erotismo no roteiro de tom confessional.

Tampouco há obviedade no roteiro que descarta a função retrospectiva de um show que, em tese, celebra os dez anos de carreira fonográfica da artista. Hits radiofônicos como Garganta e Quem de Nós Dois cedem lugar a alguns lados B (Dois Bicudos, Tolerância, Corredores - este entoado sob efeitos de chuva idealizados pela diretora Bia Lessa) da discografia da intérprete. Mas as nove músicas do CD N9ve marcam natural presença no repertório do show homônimo. Entreolhares é cantada em dueto virtual com o cantor norte-americano John Legend, convidado da faixa mais explicitamente pop do álbum. Em tons azuis, Dentro abre medley de baladas entoadas por Ana sob uma grua e diferenciadas pelas cores da iluminação (o verde ambienta Aqui enquanto a luz laranja dá o tom de O Avesso dos Ponteiros). Já Torpedo, o samba de Ana letrado por Gilberto Gil, se perde no bis, quando o público passional da intérprete já se espreme e se acotovela na frente do palco em busca de um afago da artista (na estreia nacional, um fã subiu ao palco e agarrou Ana, que deu sinal verde para o segurança permitir o arroubo - mico do espectador).

N9ve, o show, reitera a certeza de que Ana Carolina cresce em cena quando aborda obras alheias. Ela é bamba quando leva para sua roda Não Quero Saber Mais Dela - partido alto de Sombrinha e Almir Guineto, gravado por Beth Carvalho e pelo grupo Fundo de Quintal - e Essa Mulher, o samba de Arnaldo Antunes que ganha outro sentido na interpretação irônica, quase mordaz, de Ana. É, aliás, em Essa Mulher que entram no palco quatro homens que percutem vassouras à moda do grupo Stomp em ritmo inebriante que permanece em cena para ambientar Bom Dia, o tema de Swami Jr. que se encaixa com perfeição em bloco costurado com sutis links temáticos. Bloco que agrega Odeio, o rock de Caetano Veloso, finalizado com citação de Eu Nunca te Amei Idiota (Alvin L.). Na sequência, O Cristo de Madeira se insinua deslocado de início, mas ganha peso no roteiro pelo árido arranjo que inclui bem-sacada citação instrumental de Construção (Chico Buarque). Pena que, em seguida, cantora e diretora tenham sucumbido à tentação de encerrar o show com o sucesso Rosas, pretexto para gritarias e coro de fãs, num clima meio ensandecido que se repete no verdadeiro fim do show, quando Ana termina o bis com Elevador, hit de refrão tão fácil quanto infame. Fecho óbvio, mas coerente para um show movido a paixões. Da artista e do público!!

Fonte: Notas Musicais

Nenhum comentário: