terça-feira, 10 de novembro de 2009

Roberto e as 'divas': vozes diferentes para um cancioneiro que está entranhado na vida nacional


RIO - Meses depois da exibição "mutilada" na TV Globo, chega o DVD "Elas cantam Roberto Carlos" (Sony). No encontro entre 20 vozes femininas e 20 canções do repertório do cantor, houve boas surpresas, confirmações, e performances que não deixarão lembrança. Mas o que paira sobre todas as atuações é, mais uma vez, a reafirmação da capacidade do cancioneiro de Roberto - suas parcerias com Erasmo Carlos ou obras de Caetano Veloso, Sergio Endrigo, Carlos Colla e Luiz Ayrão - entranhar-se nas mais diversas esferas da vida brasileira.

A ocasião de gala - a gravação foi no Teatro Municipal de São Paulo, em maio - deixa mais evidente a relação do Rei com seu reino. É como uma festa de casamento, que, em essência, é igual no salão de subúrbio e na mais rica recepção: figurinos (e arranjos orquestrais) se equilibrando entre o elegante e o cafona; clichês de emoção revelando emoções reais; um noivo; uma (muitas) noiva(s). No fim, todas se declarando, entre abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim: "Como é grande o meu amor por você".

Antes do final apoteótico, são 19 apresentações individuais, um dueto e um indefectível "Emoções" com Roberto. Hebe Camargo abre bem os serviços dando um ar de samba-canção clássico a "Você não sabe". O DNA do romantismo italiano de Roberto é lembrado com "Canzone per te", pela dupla Zizi e Luiza Possi. Sozinha, Zizi faz outra "Proposta", dando aos versos da canção um ar hiper-romântico, menos cotidiano.

Já no "Meu bem", do primeiro verso de "Sua estupidez", Alcione repõe as coisas no lugar - a rua - e ilumina a canção com alma de Loba. Fafá de Belém segue o mesmo caminho em "Desabafo" - dramaticidade, olhar provocante. Em outro registro, Marília Pêra dá tratamento teatral a "120... 150... 200 Km por hora". Mais drama exato com Nana Caymmi e "Não se esqueça de mim". Wanderléa também mostra sua qualidade como intérprete em "Você vai ser o meu escândalo".

Por motivos diferentes, Celine Imbert ("A distância") e Sandy ("As canções que você fez para mim") se aproximam, não indo além da precisão técnica. Rosemary também não eleva "Nossa canção". Já as rainhas da Bahia... Enquanto Daniela Mercury aposta numa equivocada coreografia para "Se você pensa", e Cláudia Leitte traz "Falando sério" para o canto popular contemporâneo (com influências de suposto "virtuosismo" R&B etc.), Ivete Sangalo soa quase bossanovística em "Olha", assinando-a discretamente e com elegância - como Paula Toller em "As curvas da estrada de Santos". Caminho oposto fez Ana Carolina, que imprimiu seus exageros em "Força estranha". Fernanda Abreu foi melhor, ao manter a modernidade que já havia em "Todos estão surdos".

Paula, Celine e Rosemary estão entre as cortadas da TV. Ficaram fora outros bons números, olhares que ampliam a obra do Rei: "Como dois e dois" cai bem no blues cantofalado de Marina Lima ("Tudo em volta está deserto sem Roberto"); Adriana Calcanhotto valoriza a poesia de "Do fundo do meu coração"; Mart'nália, perfeita, usa ritmo e malícia na pouco conhecida "Só você não sabe". Interpretações que fazem o DVD valer.

Fonte: O Globo Online

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