"Tem pressão. Mas tiro onda."

O Multishow ao vivo: Ana Carolina - Dois Quartos tem suas estréias
programadas para abril. O show ganha a tela do canal da TV paga no dia 3; Ana faz show de abertura da nova turnê dia 10, no Canecão; CD e DVD chegam às lojas no mesmo mês, no dia 4. A convite do Caderno B, Preta Gil, atriz, cantora e vizinha de Ana Carolina, encontrou a cantora mineira para um papo aberto. Entre uma pergunta e outra, Preta arrumou tempo para pedir música e que seu novo disco fosse lançado pelo novo empreendimento de Ana, um selo em busca de novos talentos.


Preta: Sou muito próxima de você. Sou fã desde o começo. Produzi seu primeiro clipe, `Garganta'. Percebia que rolava timidez. Você era meio bichinho do mato, né?

Ana: Eu era muito desconfiada. Ainda mais quando você me disse que a idéia do clipe era que eu ficasse nua. Por causa da letra da música, usaria uma blusa que iria sendo desfiada.

Preta: Vai ver já era minha idéia de querer que você ficasse nua interferindo.

Ana:Mas eu nunca iria aceitar isso. Ainda bem que chamaram uma modelo.

Preta: De lá pra cá, você ganhou autoconfiança.

Ana: Aprendi que cantar é a ponta do iceberg. Sou paga para pegar avião e ficar em hotel. Cantar é algo de que gosto. Tudo aconteceu rapidamente no começo da carreira. Em seis meses vendi 100 mil cópias. Saí muito rapidamente do alternativo para o popular. No DVD as coisas estão mais embrutecidas e menos românticas.

Preta O público tem uma intuição, né? Vi no DVD que você não menospreza sua legião de fãs. Busca inovar.

Ana: Quero instigar meu fã a pensar. Ralei para caramba para ter a liberdade que tenho agora. Tenho que estudar mais e sempre. Piano eu achei que seria impossível tocar. Délia Fischer é minha professora. Ver as notas é um negócio bacana. Me dá possibilidades de harmonia, mesmo na intuição. Com o baixo tenho mais dificuldade, mas gosto de tocar.

Preta: Você também tem muitas músicas em novelas. Novelas têm uma força.
Ana: Música em novela é como uma isca. O cara ouve o resto no show e gosta. Ou não.

Preta Comecei a ter vontade de cantar por causa dos nossos encontros. Você foi a primeira a falar que eu tinha uma voz bonita.

Ana: E tem mesmo!

Preta: E daí você me presenteou com a música `Sinais de fogo', meu único sucesso. Você faz canções para outros com tesão. As encomendas chegam a cada dia mais. Você se sente confortável ou pressionada?

Ana: Tem um pouquinho de pressão. Mas tiro onda. Sei que tenho uma veia radiofônica, mas tem algo que rola que não sei o que é.

Preta: Queria te cobrar uma segunda música de trabalho, para ver se agora vai... Eu ia pedir uma música pelo interfone.

Ana: Agora que a gente é vizinha vai rolar...

Preta: Temos a mesma idade (33 anos), por isso temos influências parecidas. Percebi no DVD a Marina como uma referência na ousadia das poesias, nas métricas.

Ana: Tem Marina com certeza. Escutei bastante nos anos 80. Escuto até hoje. No show Loucos por música, que fiz com Adriana Calcanhoto e a Marina, tocamos Três. Resolvi gravá-la no DVD. As influências me dão tesão para tentar fazer algo diferente. Agora tenho um selo e...

Preta: Ah é? Estou precisando de um selo.
Ana:Não sabia. Então está contratadérrima. No meu próximo passo quero ser bem radical. Mais radical do que fui em Ana e Jorge, quando fizemos (a cantora e Seu Jorge) apenas sete ensaios antes de gravar. Não quero ficar correndo atrás da própria sombra.

Preta: Ter que gravar um disco a cada dois anos e sempre lançar sucessos.

Ana: Não sei ainda o que farei. Mas vou fazer algo radical.

Preta: Em dupla, novamente?

Ana: Não é certo. Estou pro- curando talentos novos...

Preta: Assistindo ao DVD achei tudo mais natural. Você está até mais solta no palco, cantando só com o microfone em alguns momentos.

Ana: Isso é difícil pra mim. Se você visse o ensaio, teria chorado.

Preta: Você às vezes parecia meio travada.

Ana: Não tenho noção do que acontece comigo do pescoço para baixo. Dei muito trabalho para minha coreógrafa, a Deborah Colker. Não quero mostrar meu lado doce.

Preta: A nossa geração foi encaretando, concorda? Existe uma caretice hoje.

Ana: Já evoluiu bastante. Me divirto com as pessoas que se chocam com as coisas que falo e faço. Muito mais do que música, o que quero passar é a sensação de liberdade. Com a internet você tenta tocar todo o mundo, mas vive em solidão. São muitos os covardes da internet.

Preta: Sessenta por cento dos posts no meu blog são para me chamar de vaca ou de gorda. Você é preservada porque não tem um lado celebridade, né?

Ana: É. Chego nos lugares e passo batida. É tão bom. Fico meio de cabeça baixa e bolsa na mão. Sem glamour.

Fonte: Jornal do Brasil
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